Pouco conhecida do grande público, a história militar brasileira guarda projetos surpreendentes. Um deles é o Projeto Trocano, responsável pelo desenvolvimento da maior bomba termobárica da América Latina e a terceira mais poderosa do mundo. O armamento foi projetado pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), com financiamento do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER) e apoio da Diretoria de Material Aeronáutico e Bélico (DIRMAB).
Inspirada em modelos estrangeiros, como a MOAB dos Estados Unidos e a FOAB da Rússia, a bomba brasileira permaneceu em sigilo durante anos, tendo sua existência confirmada publicamente apenas em um relatório da Força Aérea Brasileira (FAB) divulgado em 2011.
Potência destrutiva impressionante
O projeto, iniciado em 2004, tem como base o conceito de bomba termobárica — um tipo de explosivo que utiliza o oxigênio do ambiente para gerar uma explosão de altíssima temperatura, com forte onda de choque. A Trocano pesa cerca de 9 toneladas, contendo explosivo tritonal, uma mistura de TNT com pó de alumínio.
De acordo com as informações conhecidas, o raio de destruição chega a 1 quilômetro, o que a torna eficaz para limpar áreas densamente vegetadas, principalmente em operações que exijam pousos de aeronaves de asa rotativa, como helicópteros, em terrenos de difícil acesso.
O armamento foi projetado para ser lançado a partir de aeronaves Lockheed C-130 Hércules, usando um sistema de paraquedas que libera a bomba do palete, permitindo que sua própria aerodinâmica conduza a trajetória até o alvo, com mais precisão.
Mais potente que a bomba americana
A Trocano supera, em poder destrutivo, a famosa bomba norte-americana MOAB, que possui 8 toneladas de explosivo do tipo H6. No entanto, ainda é inferior à versão russa, a FOAB, que carrega 11 toneladas.
A utilização de tritonal na bomba brasileira oferece uma explosão mais intensa, de altíssima temperatura, e com capacidade de devastar não apenas alvos físicos, mas também consumir todo o oxigênio em seu raio de ação, tornando-a letal em espaços abertos ou confinados.
Uso operacional ou dissuasão?
Apesar da confirmação sobre sua existência, não há qualquer informação pública sobre a produção em série ou o uso operacional do armamento. A própria FAB, até hoje, mantém o tema sob rigoroso sigilo.
Especialistas apontam que, mais do que uma intenção de uso, o projeto pode servir como estratégia de dissuasão, reforçando a capacidade de defesa do país e demonstrando competência tecnológica no setor de armamentos.
Além disso, levanta-se a discussão sobre o posicionamento do Brasil na indústria bélica global. A pergunta que fica é: estaria o país se preparando para sair da condição de nação apenas pacífica e passar a ter papel mais relevante na defesa mundial?
Independentemente da resposta, o Projeto Trocano já se consolidou como um marco na engenharia militar brasileira, demonstrando que o país possui, sim, capacidade técnica para desenvolver armamentos de altíssima potência.
Fonte: Engenharia 360